Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus.
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus.
Minha história, Chico Buarque de Hollanda
Vênus de Dolní Věstonice |
O Paleolítico Superior nos deixou muitas imagens da deusa mãe, muitas vezes grávida, algumas poucas com o filho no colo. A figura ao lado veio da Europa oriental, e foi feita há cerca de 30 000 anos.
A deusa e seu filho continuam pelos tempos, e quando começa a História, a Suméria nos conta de Innana e Dumusi. Aparecendo como seu amante de juventude, ou como seu marido que a decepciona, também se diz dele que foi seu filho.
Innana se confunde com Ishtar, dos povos semitas que seguiram naquela Mesopotâmia antiga, e seu filho é Tammuz, que cresce e se torna seu amante, e que é morto. Este mito é típico de um povo agricultor que vê o grão brotar, a planta crescer, se reproduzir, e morrer, num ciclo anual.
Mais tarde os gregos contam que Afrodite teve como amante mortal Adônis, e a história é a mesma. Mas os gregos clássicos tiveram as tragédias, e por elas sabemos que Édipo destruiu a si mesmo e a seu reino quando desposou sua mãe.
O tabu do incesto existe em todas as culturas. Mesmo entre animais a natureza criou mecanismos para dificultar a cópula entre irmãos.
Joseph Campbell conta um mito sobre o primeiro casal e seus filhos. Eles amaram tanto os filhos que tiveram juntos, que comeram todos. Então o criador diminuiu a quantidade de amor neles, para que a humanidade pudesse existir.
Isto ilustra o arquétipo do amor da mãe pelo filho, visto acima, e seus perigos. O arquétipo é colocado no plano dos deuses, isto é, forças da psique, e o conhecimento dos mitos permite que no plano da vida humana a pessoa consciente administre estas forças psíquicas, sem ceder a seus impulsos. Ver a tragédia de Édipo para não VIVER a tragédia de Édipo.
Conheço - e tenho certeza de que você também - vários casos de mães que "matam" seus filhos homens quando eles crescem e se casam. Parecem querer trazê-los de volta ao útero, como se tivessem sido tomadas pela deusa mãe terra e quisessem o grão de novo inerte em seu seio.
Até Afrodite, no mito de Eros e Psiquê, se comporta como uma sogra-ogra, fazendo tudo pela morte da nora. Na cultura tradicional da Índia, a sogra da esposa é terrível e temida, cruel com freqüência. Dizem os hindus que é para se vingar por ter sofrido o mesmo quando era uma jovem esposa, mas seja como for, o arquétipo está constelado aqui. Lembremos que na Índia tradicional o ego é sempre infantil, já que as regras da casta são imutáveis e inquestionáveis.
E o oposto? Quando Freud esteve na África, visitou um povo onde a jovem se mudava, ao casar, para a aldeia do marido. Se a sogra avistasse o genro da estrada, devia se esconder, não podia ser vista por ele. Freud observou que a sogra ainda era jovem, e podia ser atraente, e este tabu impediria a competição da mãe com a filha pelo genro.